Cara ASMA,
Sei que você tem sido uma
companhia não muito desejada, mas presente em toda minha vida, principalmente na
minha infância. Época essa, que fez minha mãezinha passar noites em claro comigo, que
me privou de tomar homéricos banhos de piscina e chuva, meus preferidos até
hoje e me roubou a companhia dos ursinhos de pelúcia. Isso não se faz
senhora Asma!
Na adolescência, você me deu uma trégua,
afinal era coisa demais para mim, mas depois você voltou com tudo, não foi?
Sei que é uma doença mal interpretada
nos livros e no cinema, o que é muito bem feito para você, mas uma desfeita aos
acometidos por esse mal. Quando colocam personagens com asma, sempre associam à
imagem de pessoas frágeis e limitadas, o que é totalmente falso.
Você é perturbadora,
mas por sua persistência chata, asmáticos geralmente são pessoas intensas que
querem aproveitar quando estão bem. Valorizam a respiração, tem uma percepção
maior de sua importância e a fazem com mais consciência e menos automatismo. Quem tem falta de ar, só
pode ser forte, porque se fosse fraco não resistia à primeira crise.
Costumam colocar em novelas ou filmes, uma cena bem típica em que a pessoa não consegue beijar o seu amado por causa de você. Isso me faz rir dessa generalização errônea desses autores sobre o assunto e por lembrar-me um episódio em que eu, em plena crise, fui beijada pelo meu primeiro namorado e instantaneamente a crise passou. Meu corpo se encheu de adrenalina e endorfina e você sumiu, escafedeu-se.
Aos asmáticos, indico esse
tratamento: amar, apaixonar-se, beijar, abraçar, namorar e fazer amor. Bons antídotos e muitas vezes melhores que a bombinha ou o aerosol.
Então voltando a nossa relação
conturbada, digo que em meu caso, você contribuiu e muito para tornar-me alguém
forte, que sabe nadar muito bem (potencial adquirido em mais de 8 anos de
treinos de natação), percebi que poderia conviver com você sendo disciplinada
no meu tratamento e assim tomando banhos
de piscina, mar, chuva sempre que desse vontade. Para evitá-la tenho uma vida
saudável, uma alimentação balanceada e pratico exercícios, pois nunca cogitei a
idéia de ser alguém preguiçosa, sou ativa. Entendi logo que a respiração é o princípio de todo
fluxo de energia do meu corpo e a faço com consciência. Aprendi cedo a apreciar
a minha vida e amá-la como ela merece, enfim, você tentando limitar-me, só
aumentou minha intensidade.
Escrevo-lhe, hoje, para dizer que
desista de bater à porta do meu pulmão, buscando abrigo, parasitar-me e roubar minha energia. Não
adianta. Apesar das suas inúteis tentativas, o meu ritmo só aumenta e meu exército
de defesa bem munido está cada dia mais blindado ao seu ataque. Então, vê se
cansa e não venha me cansar com sua tentativa de me parar pelo cansaço.
Até nunca mais!
Fernanda Vieira
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