quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Carta à Asma Alérgica


Cara ASMA,

Sei que você tem sido uma companhia não muito desejada, mas presente em toda minha vida, principalmente na minha infância. Época essa, que fez minha mãezinha passar noites em claro comigo, que me privou de tomar homéricos banhos de piscina e chuva, meus preferidos até hoje e me roubou a companhia dos ursinhos de pelúcia. Isso não se faz senhora Asma!

Na adolescência, você me deu uma trégua, afinal era coisa demais para mim, mas depois você voltou com tudo, não foi?

Sei que é uma doença mal interpretada nos livros e no cinema, o que é muito bem feito para você, mas uma desfeita aos acometidos por esse mal. Quando colocam personagens com asma, sempre associam à imagem de pessoas frágeis e limitadas, o que é totalmente falso. 

Você é perturbadora, mas por sua persistência chata, asmáticos geralmente são pessoas intensas que querem aproveitar quando estão bem. Valorizam a respiração, tem uma percepção maior de sua importância e a fazem com mais consciência e menos automatismo. Quem tem falta de ar, só pode ser forte, porque se fosse fraco não resistia à primeira crise. 

Costumam colocar em novelas ou filmes, uma cena bem típica em que a pessoa não consegue beijar o seu amado por causa de você. Isso me faz rir dessa generalização errônea desses autores sobre o assunto e por lembrar-me um episódio em que eu, em plena crise, fui beijada pelo meu primeiro namorado e instantaneamente a crise passou. Meu corpo se encheu de adrenalina e endorfina e você sumiu, escafedeu-se.

Aos asmáticos, indico esse tratamento: amar, apaixonar-se, beijar, abraçar, namorar e fazer amor. Bons antídotos e muitas vezes melhores que a bombinha ou o aerosol.

Então voltando a nossa relação conturbada, digo que em meu caso, você contribuiu e muito para tornar-me alguém forte, que sabe nadar muito bem (potencial adquirido em mais de 8 anos de treinos de natação), percebi que poderia conviver com você sendo disciplinada no meu tratamento e assim  tomando banhos de piscina, mar, chuva sempre que desse vontade. Para evitá-la tenho uma vida saudável, uma alimentação balanceada e pratico exercícios, pois nunca cogitei a idéia de ser alguém preguiçosa, sou ativa. Entendi  logo que a respiração é o princípio de todo fluxo de energia do meu corpo e a faço com consciência. Aprendi cedo a apreciar a minha vida e amá-la como ela merece, enfim, você tentando limitar-me, só aumentou minha intensidade.

Escrevo-lhe, hoje, para dizer que desista de bater à porta do meu pulmão, buscando abrigo,  parasitar-me e roubar minha energia. Não adianta. Apesar das suas inúteis tentativas, o meu ritmo só aumenta e meu exército de defesa bem munido está cada dia mais blindado ao seu ataque. Então, vê se cansa e não venha me cansar com sua tentativa de me parar pelo cansaço.

Até nunca mais!

Fernanda Vieira